O ano de 2014 já pode ser considerado um ano
histórico para a cultura na Bahia. Mais de quatro décadas se passaram para que
fosse rompido um dos hiatos deixados pela ditadura militar e se retomasse a
Bienal da Bahia. Para dar voz à arte silenciada, artistas do Brasil e de
diversos países, ao lado de um público de 75 mil pessoas, movimentaram Salvador
e mais de 20 municípios baianos durante 100 dias.
O público pôde vivenciar uma arte e uma programação
que fugiu aos formatos convencionais e elegeu como pontos expositivos de
galerias a igrejas, de museus a fábricas abandonadas, de ateliês a espaços
comunitários em bairros populares. “A Bienal dialogou com a interessante
história cultural da Bahia rememorando episódios quase esquecidos, mas se abriu
obrigatoriamente ao presente e ao futuro”, afirma o secretário de Cultura,
Albino Rubim.
A Bahia fez história também ao ser o primeiro
estado do país a aprovar, na Assembleia Legislativa, o Plano Estadual de
Cultura. O documento garante estabilidade às políticas culturais pelos próximos
dez anos - um compromisso que vai além da atual gestão - assim como o Plano
Estadual do Livro e Leitura e a Política Setorial de Museus.
Homenagens
O centenário de nascimento de Dorival Caymmi foi
festejado com programação que teve início no Carnaval da Cultura e continuaram
até o fim do ano. A beleza do Abaeté e os mistérios de Itapuã, bairro mais
cantado pelo artista, protagonizaram a festa na data de aniversário do
compositor, 30 de abril. Nos espaços culturais da Secult foram realizados
mostra de vídeo, shows e exposições.
Claudia Cunha, Orquestra Sinfônica da Bahia, Balé
Teatro Castro Alves, Orquestra Rumpilezz, Orquestra da Fundação Cultural do
Estado da Bahia, Saulo e Luiz Caldas subiram ao palco do Teatro Castro Alves
(TCA) para homenagear, em diferentes espetáculos, o artista que ajudou a
escrever, com notas musicais, a identidade da Bahia e dos baianos. Também no
TCA, a reverência virou festa familiar em um show repleto de emoção em que
Danilo, Dori e Nana cultivaram a memória e o repertório do pai.
O Pelô, que homenageou Caymmi no Carnaval, abriu
seus palcos e praças para aplaudir os 40 anos do Ilê Aiyê e o aniversário de
tradicionais blocos de matriz africana. Considerado o espaço mais seguro da
festa de Momo, o Centro Histórico vestiu-se com as cores e ritmos da
diversidade durante a Copa do Mundo. Seus largos e ladeiras receberam passos de
gente dos mais distantes países, que conheceram de perto a tradição dos
festejos juninos e participaram de alguns dos mais de 1.100 shows de variados
ritmos musicais que animam o Pelourinho durante os 12 meses do ano.
A beleza do Carnaval reluziu no brilho das mais de
100 entidades que desfilaram no Carnaval Ouro Negro, na criatividade dos
microtrios do Carnaval Pipoca e na originalidade do Palco do Rock e da festa de
Mascarados de Maragojipe. Os projetos apoiados desenvolvem ações que reverberam
nas comunidades o ano inteiro. “O Carnaval Ouro Negro abraça grupos e entidades
culturais que, além do Carnaval, desenvolvem trabalhos sociais e culturais em
suas comunidades”, afirma a diretora do Centro de Culturas Populares e
Identitárias da Secult, Arany Santana.
Caravana cultural
Em sintonia com a diretriz de aprofundamento da
territorialidade da cultura, a Secult desenvolveu projetos em todo o estado. A
IV Caravana Cultural foi conhecer de perto a cultura fértil que brota no
terreno seco de 12 municípios do semiárido. Criadas em 2012, as caravanas já
passaram por 34 municípios de oito territórios de identidade do sertão e das
regiões oeste e sul da Bahia.
Por meio deste e de projetos como o Funceb
Itinerante, que visitou todos os 27 territórios de identidade, a secretaria
pôde elaborar políticas culturais em sintonia com as necessidades de cada
lugar. Por meio do Funceb Itinerante, desde 2011 foram percorridos mais de dez
mil quilômetros e estabelecido contato direto com mais de mil artistas,
produtores e agentes culturais.
Financiamentos
Principal fonte de financiamento cultural na Bahia,
o Fundo de Cultura apoiou 2.317 projetos e investiu R$ 197,1 milhões, entre
2007 e 2014. Neste período, foi ampliado significativamente o investimento do
Fundo, passando de R$ 15 milhões em 2007 para R$ 42,5 milhões atualmente.
Com o aumento de recursos para o FCBA, o número de
projetos contemplados cresceu quase 1.000% e pôde alcançar muitas áreas
culturais em todos os 27 territórios de identidade da Bahia. Em 2006, apenas
11,76% dos projetos selecionados tinham proponentes do interior do estado. Já
em 2014, o percentual cresceu para 47,98%.
Projetos
Gente de todos os cantos da Bahia também passou a
ser vista e alcançou a tão sonhada cidadania através de programas como o
'Cultura Viva'. Em maio de 2014, os pontos de cultura de todo o estado se
reuniram em Salvador, compondo uma verdadeira teia, que vai da cultura afro ao
teatro, do samba de roda à literatura de cordel, passando pela zambiapunga e
muitas outras manifestações culturais.
Essas manifestações ganharam espaço durante todos
os meses do ano. Em março, os 50 anos do golpe militar e os 30 anos das Diretas
Já pautaram uma semana de debates sobre autoritarismo e democracia no mês de
março, no 'III Fórum do Pensamento Crítico: Autoritarismo e Democracia na
Bahia'. O 'Agosto da Capoeira' reuniu mestres e alunos do Brasil e de diversos
países no Forte de Santo Antônio Além do Carmo, o Forte da Capoeira. Setembro
foi o mês da Semana do Audiovisual Baiano Contemporâneo e do retorno do projeto
'Quarta que Dança'.
Em outubro, a celebração foi das Culturas dos
Sertões. Mulheres de todo o país se reuniram no Encontro Nacional Mulher e
Cultura. Em novembro, o Encontro das Culturas Negras abriu as portas para o
registro especial de dez terreiros de candomblé de Cachoeira e São Félix.
Novembro também foi o mês de homenagear organizações e personalidades de
importante contribuição para a Bahia com a Comenda do Mérito Cultural, e de
abertura da Temporada Verão Cênico, que este ano trouxe o circo como novidade
na alta estação.
O ano também foi de celebração pelas três décadas
da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Os 30 anos de
empenho na formação e qualificação de pessoas inspiram essa que é uma das
prioridades da Secult, na busca pela organização do campo cultural, por meio de
sua institucionalização.
Inaugurado neste ano, no Forte de Serviços
Criativos, o escritório Bahia Criativa é outro espaço voltado para a
qualificação profissional. Esta nova visão, em que riqueza cultural é sinônimo
de cidadania e de desenvolvimento econômico, pauta também os procedimentos
democráticos do campo cultural. Em dezembro, toda a sociedade pode contribuir
com as metas do Plano Estadual de Cultura da Bahia, via consulta pública que
está sendo realizada no site da Secult, de 12 de dezembro de 2014 até 31 de
março de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário