Orçado em R$ 2,7 bilhões, o Estaleiro Paraguaçu,
considerado um dos maiores investimentos privados da Bahia nos últimos dez
anos, está com suas obras ameaçadas, no município de Maragogipe, no Recôncavo.
Nesta terça-feira, 6, a Enseada Indústria Naval,
empresa responsável pelo projeto, demitiu
260 operários, devendo realizar hoje mais 240 novos desligamentos,
totalizando 500 demissões, que se somam a outras 470 dispensas que já haviam
sido realizadas pelo grupo no início de dezembro do ano passado.
O cancelamento dos repasses - que totalizariam US$ 210 milhões - pelo principal cliente da Enseada, a empresa
Sete Brasil, estaria inviabilizando o andamento do projeto, atualmente com 82%
das obras concluídas.
A partir desta quinta, 8, outros 1.000
trabalhadores devem ingressar em férias coletivas, "e a situação deles só
deve ser reavaliada em 9 de fevereiro, quando termina o descanso forçado",
conforme informou o vice-presidente do Sindicato da Construção Pesada e
Montagem Industrial da Bahia (Sintepav), Irailson Warneaux.
"Até lá, a Enseada e o sindicato esperam que
seja efetuado o repasse pela Sete Brasil", disse o líder sindical, durante
assembleia realizada ontem pelos operários.
A Sete Brasil é uma empresa de investimentos
formada pela Petrobras e por grandes empresas de engenharia, bancos e fundos de
pensão. A empresa teve os projetos interrompidos desde que foi citada pela
Polícia Federal na Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção
envolvendo a Petrobras.
No mês passado, os trabalhadores do projeto
chegaram a promover manifestações na Av.
Tancredo Neves, "mas agora a ideia é buscar audiências com autoridades
baianas e na Sete Brasil para destacar o impacto do projeto para a economia
baiana e para a vida dos trabalhadores", como ressaltou Warneaux.
Outro lado
Em nota, o diretor de Relações Institucionais e de
Sustentabilidade da Enseada Indústria Naval, Humberto Rangel, confirmou as
demissões, informando que o projeto, que já chegou a ter 7 mil operários
trabalhando na construção, encerrou 2014 com
2.200 trabalhadores no canteiro da obra, além de outros 1.000
integrantes atuando na operação industrial.
"Apesar de reconhecer o período de dificuldade
enfrentando pela indústria naval brasileira, a empresa segue com sua operação
industrial na Bahia para fabricação de seis sondas de perfuração", disse
o executivo na nota.
Rangel refere-se aos navios que já haviam sido
contratados pela Sete Brasil para construção pelo estaleiro baiano até 2020,
visando a exploração do petróleo do pré-sal. Antes mesmo da conclusão das obras
do projeto, previstas para o final deste ano, o Consórcio Enseada Paraguaçu já
estava trabalhando na construção dos navios-sonda, com previsão de entregar o
primeiro, em 2016.
Financiamento
O consórcio é composto, em 70%, por empresas
essencialmente baianas - os grupos
Odebrecht e OAS, além da UTC, de forte atuação no estado. Os 30% restantes são
da japonesa Kawasaki, responsável pela alta tecnologia prevista para o
empreendimento.
O Sintapav revelou, que a Enseada vem tentando
negociar, em vão, financiamento junto ao Banco do Brasil, num impasse que pode
levar "a desmobilização total da obra".
Já estariam paralisadas, segundo informações
do sindicato, três
oficinas; o dique seco; o pátio underground, além de prédios
administrativos, equipamentos e as instalações elétricas e eletromecânicas.
A Tarde